“A baronesa
transviada” (1957) é um bom exemplo de produção que se aproveita do ritmo das
comédias musicais norte-americanas para subvertê-lo com elementos muito
brasileiros. A influência do nosso teatro de revista é patente, e ela é
temperada com algumas características do gênero melodramático, que são, no
entanto, sempre lidas sob a ótica da comédia.
Dercy Gonçalves é Gonçalina,“enjeitadinha” desde o berço, que se descobrirá herdeira de uma baronesa que está com o “pé na cova”.
Dercy interpreta tanto
a herdeira, que pode ser reconhecida por uma pinta de nascimento , quanto a
baronesa moribunda.
Reconhecida como a
filha perdida e falecida a baronesa, Gonçalina herda a fortuna e o título,
então resolve investir em seu grande sonho, uma produção do cinema onde ela
será a estrela.
Mas logo Gonçalina
descobre que foram os parentes que a deixaram numa lata de lixo logo após seu
nascimento, para dar sumiço na herdeira da fortuna, que assim ficaria para os
parentes mais próximos, e que pode estar correndo risco inclusive da própria
vida caso eles tentem novamente livrar-se dela.
A composição dos
personagens é de uma incrível brasilidade, se as comédias musicais
hollywoodianas têm as mocinhas puras e os galãs apaixonados – que ocupam o
papel de protagonistas – e os bobalhões, nós temos o português, que explica,
por meio de seu acento característico, que jogou a filha da baronesa no lixo
para se desfazer dela – e nem sequer pensou na possibilidade de alguém
encontrá-la; o “mão quebrada”, parente da baronesa que tem um
"defeito" na mão, e gera um rebento saltitante e com voz afeminada; o
negro Benedito, pequenino e muito matreiro, interpretado por Grande Otelo. Também temos nossa versão da garota ingênua e apaixonada, mas quem dá as cartas na comédia não é ela, e sim nossa protagonista escrachada, que dança com Humberto Catalano um tango desengonçado numa época em que Fred Astaire e Cyd Charisse fascinavam as telas com seus românticos números de dança.
“A Baronesa Transviada”
reúne um grupo de personagens muito divertidos, músicas que marcaram época no
final da década de 50 e um elenco encabeçado por Derçy Gonçalves, que afinal de
contas “é” a Dercy Gonçalves, impagável como sempre, e numa época em que ela
ainda era uma
grande estrela do cinema nacional e que o público brasileiro ia
em peso aos cinemas ver as produções.
Dirigido e escrito por Watson Macedo, que idelizou a história original em parceria com Chico Anysio, e depois escreveu o roteiro em parceria com Ismar Porto, e contando com a presença de figuras antológicas do cinema brasileiro como Derçy Gonçalves, Grande Otelo e Catalano, “A Baronesa Transviada”, além de divertimento garantido, ainda trata-se de um verdadeiro registro da história do cinema nacional, simplesmente imperdível.
ELENCO
Dercy Gonçalves
COMO Gonçalina e a Baronesa |
Humberto Catalano COMO Ambrósio Bezerra (Obs.: creditado como Catalano) |
Zaquia Jorge COMO Suely Borel |
Francisco Dantas COMO Juvaldo |
Rosa Sandrini COMO Celina |
Lourdes Bergmann COMO Zuleika (creditada como Lourdes Bergman) |
Domingos Terras COMO Claudionor
Armando Nascimento COMO “médico”
Renato Consorte COMO “advogado”
Vicente Marchelli COMO Francisco
Apolo Correia COMO Sinval
Tiririca COMO Otoniel
Francisco Martorelli COMO “mordomo”
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